Esmeraldas Brilhantes

Os dias passaram calmos no “Acampamento Tigre de Fogo”. 
Calmos dentro do possível, pois um acampamento cigano tem de tudo que qualquer família de Gadgê têm e ainda um pouco mais. 

Durante quatro meses Juan escrevia toda semana contando as novidades: Estava tudo correndo as mil maravilhas como o esperado. Sua filha foi convidada a ser assistente do Químico principal da Usina e estava fazendo “Cursos Superiores de Tecnologia em Processos Químicos” e estava se saindo muito bem! Mah já estava apta e totalmente capacitada para atuar nas indústrias, empregando processos eletroquímicos e biotecnológicos, nas áreas emergentes do setor produtivo, promovendo a formação de profissionais para atuação nos diferentes segmentos do mercado industrial e tecnológico, qualificando profissionais com conhecimentos teóricos, práticos e éticos. 
Juan estava feliz e sua filha realizada. 


Capitulo 15 
***

Era aniversário de Enrico!
  Dedylson Magno e mais alguns ciganos foram convidados a participar da homenagem. Eles prometeram comparecer com suas canções e suas danças na festa que armaram para Enrico no “acampamento Baldarachi”. Enrico andava muito triste com a partida da ciganinha e queriam alegrá-lo. Rapidamente os homens do acampamento iluminaram toda a escuridão ao redor com tochas e archotes... As toras foram empilhadas num canto e dali a poucas horas os trailers fizeram a formação de um círculo na clareira. (Armavam assim sempre que tinha festa para que a comemoração que tirava a atenção dos guardas não fosse invadida). 

Uma grande fogueira central foi construída e um grande número de tochas acesas. O acampamento foi enfeitado. Efraim pai de Enrico reuniu o povo e conclamou a todos a comemorar a vida de seu filho. O povo saudou o jovem Cigano 

As mulheres começaram a preparar a comida. Alguns homens pegaram seus instrumentos musicais. Outros montavam bancos improvisados com troncos de árvores ao redor da fogueira. Enquanto algumas mulheres dançavam, crianças brincavam e velhos confabulavam, a maioria dos ciganos estavam reunidos ao redor da fogueira, conversando e comendo. 

Ao fundo, na preparação das comidas, estava Kassandra jovem filha de Mizael e Dolores. Ela olhava fixamente para Enrico que evitava seus olharas ao máximo que podia. Estavam todos se divertindo quando ouviram barulhos de tropel de búfalo... Os ciganos lançaram olhares uns para os outros. Rapidamente os homens se reuniram na entrada da clareira. Os mais fortes e guerreiros sacaram seus punhais e as mulheres correram com as crianças para dentro dos Trailers 

Surgiu na escuridão um búfalo negro com alguém bastante grande montado. Ele vinha com uma tocha. Ninguém conseguiu distinguir direito o que ou quem era. O montador viu o acampamento cigano e manobrou o búfalo de volta para o interior da mata. 

Os ciganos estavam preparados para este tipo de coisa. Não raro eram atacados durante as noites. 
(A Vida de ciganos é perigosa onde quer que estejam. Se eles estão nas praças das cidades são tidos como feiticeiros e ameaçadores, são acusados de coisas tão irreais como talhar o leite e sequestrar crianças para fazer sabão... E pelas coisas reais como: roubar vegetais de plantações, como também, vender produtos de segunda mão de origens obscuras). 
Os ciganos ficaram esperando que algo acontecesse. Depois de alguns minutos, mais búfalos puderam ser ouvidos. Efraim olhou para Enrico ao seu lado e disse:. 

- Fique preparado filho. A criatura do búfalo era um batedor vamos colocar para dentro todos e esperar o que vai acontecer, pena que irão estragar sua festa. Vamos mantê-los fora da “roda” 

Todos os mais fortes, protetores e guerreiros ficaram preparados... Foi quando surgiu por entre a trilha uma grande puro-sangue castanho. Era o primeiro de um comboio de outro grupo cigano que chegava para as festividades. O comboio parou e todos apearam de suas montarias em torno de uma bela carroça que eles protegiam. A porta da carroça se abriu e um enorme homem de cabelos brancos surgiu... 

Efraim correu para cumprimentar o homem grande e forte, de cabelos brancos compridos, amarrados em um rabo de cavalo que já descia da carroça. O homem aparentava uns cinquenta anos de idade. Talvez um pouco menos 

-Dedylson! – Gritou Efraim iluminado por uma tocha. 

-Efraim velho amigo! – Falou Dedylson, abrindo os braços para o velho cigano. 

Os dois se abraçaram. 

-Ung! Minhas costas. – Gemeu Efraim. – Não sou mais o mesmo. Estou velho. 

- Pra mim você ainda parece forte, Efraim. Como estão as coisas? Quanto tempo faz? Dez anos? 

-Vinte meu amigo. 

-Nossa. Muito tempo… 

-Sim, sim, meu amigo. Mas venha, entre rápido! Foram convidados para uma festa, mas estão prestes a presenciar uma batalha... Um batedor montado em um búfalo esteve aqui para o reconhecimento, e ouvimos tropel de mais búfalos se aproximando. Entrem rápido na roda! 

Efraim pediu que afastassem os trailers para ter mais espaço e os homens fortes pegassem os machados. Enquanto afastavam os Trailers Dedylson e seus ciganos também empunharam machados e disseram que batalhariam juntos e depois comeriam e dançariam na comemoração. Em pouco tempo, uma grande área circular foi aberta no meio da clareira, ao sopé da montanha. Os jovens, as crianças, as mulheres e os idosos foram protegidos na roda e os homens ficaram fora da roda recepcionando os invasores. 

Os Ciganos guerreiros estavam preparados de machados nas mãos. Magno liderava o grupo ao lado de Dedylson e Efraim quando da escuridão apenas um búfalo se aproximou com uma tocha e uma bandeira Azul Vermelha e branca tremulando à luz da tocha. Efraim disse surpreso: 

- São ciganos! Mas montando búfalos? Isso é inusitado. 

Magno falou: 

- Não baixe a guarda Efraim! Minha sensibilidade está em polvorosa! Fiquem atentos! 

O Búfalo se aproximou lentamente dos guerreiros e Magno viu surgir da escuridão e apear diante deles, a mulher mais linda que seus olhos já havia testemunhado. Era uma Cigana de cabelos muito negros, alta com olhos profundamente verdes, que trajava um vestido colorido e no cabelo uma rosa vermelha. 
Seu olhar era penetrante e Magno sentiu suas tripas dando um nó quando as duas esmeraldas brilhantes dos olhos dela cruzaram com o olhar dele. Seus olhos se encontraram e eles puderam sentir uma faísca que se acendeu na alma de ambos imediatamente. 

Outros búfalos se aproximaram puxando carroças, parecendo uma pintura antiga. De uma das carroças desceu uma bela cigana de mais ou menos quarenta anos com o olhar inquietante. Ela chegou perto de Magno que estava na frente do grupo de guerreiros. Ela pensou ser ele o Líder da caravana e se apresentou: 

- Sou Pietra do povo cigano atendido por “Manushi” da casta indiana “Dalitii”! Essa é Sandra, minha filha. 

Magno ficou alguns segundos sem fala. A moça percebeu e sorriu. Enfim ele cruzou as espadas no peito em seguida embainhou-as e disse. 

- Oi, como vai? 

-Tudo bem. Eu sou Sandra. Muito prazer. 

-Muito prazer Sandra! Sinta-se em casa! Entretanto o Líder desse acampamento é Efraim. 

 Disse Magno meio sem jeito por essa confusão levando Pietra até o Líder e apontando um local para Sandra sentar. 

 Pietra entregou uma carta com o selo dos “Olivers” à Efraim e explicou que foram enviados ao acampamento pela Princesa do mesmo. Mas não sabia que estavam em festa e desculpou-se por não estarem vestidos para tanto. Efraim disse que estavam lindas e acomodou a todos na roda enquanto quatro dos homens foram levar o batedor com os búfalos a um lugar apropriado. 
Durante aquela noite, Magno não conseguiu desviar os olhos daquela mulher. Sandra tinha curvas perfeitas, o olhar dela trazia algo de calor, era um olhar sedutor, mas com alguma inocência quase infantil que cativava além de Magno!.. Outros homens do acampamento inclusive Enrico.
Ao fundo, comendo um pedaço de cervo, estava Kassandra, que olhava para Sandra com um olhar fulminante por um ódio avassalador. 

O velho Efraim conversava animadamente com Pietra e Dedylson, os dois ciganos disputavam a atenção da bela Pietra contando casos do passado deles, do tempo em que as mães de seus filhos eram vivas. 
Magno estava hipnotizado olhando para Sandra, que conversava com as outras moças ao lado da fogueira. Sentindo a insistência do cigano em olhá-la, de vez em quando, ela também olhava rapidamente para ele e disfarçava. Enrico sentou-se ao lado dele e disse: 

– Graças a Santa Kali hoje posso ter voce aqui comemorando comigo! 

- Pois é Enrico. Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de te agradecer, me disseram que voce se esmerou na minha procura. 

-Ah, para com esta palhaçada. Não fiz mais que minha obrigação. Agora tome. Beba! 

 Disse Enrico enchendo a taça de Magno com vinho. 
Dedylson tocou uma musica linda no violino e todos aplaudiram no final da musica. Pietra sinalizou com as mãos para Sandra. 

- Dance minha criança. Dance! 

A bela Cigana saltou com desenvoltura por cima do tronco que separava o fogo da roda de pessoas e iniciou sua dança. O povo cigano cantou alegremente as músicas ciganas tradicionais. A dança cigana é livre! Não tem uma coreografia, os corpos ciganos seguem os ritmos das palmas ou das batidas dos pés, e Sandra bailava divinamente. Ela dançava olhando de um modo sedutor para Magno. Ao lado dele, Enrico estava estupefato. Olhavam com caras de bobos aquela deusa de cabelos negros se materializar na luz bruxuleante do fogo. 
Sandra girava o corpo rodando suas saias no ritmo dos violinos. Movia-se felina, mágica e sorridente. O corpo dançando sem parar. Todos aplaudiam e gritavam seu nome. 

  A dança contagiante de Sandra afetava principalmente Magno que sentia tonturas, certo delírio. Imaginando-se com aquela mulher para sempre. Não conseguia imaginar como viveu sem ela todo esse tempo 
Os cabelos de Sandra assoviavam ao passarem perto do Cigano durante o rodopio, de maneira que ela parecia mais um anjo que uma mulher... Uma visão mágica, algo que não pertencia ao mundo que ele vivia. O corpo de Sandra bailava num movimento de intensa sensualidade, mas seu rosto sorria com a inocência e a pureza de uma menina. Sandra girou à beira do fogo segurando as saias e num movimento maravilhoso do corpo após uma pirueta, tirou a rosa do cabelo e jogou aos pés de Magno. 

O Cigano pegou a rosa, afastou-se um pouco e ficou olhando de longe as ciganas bailarem diante da fogueira que já soltava fagulhas parecendo estrelas incandescentes quando ouviu uma voz conhecida: 
- Isso não é bom “Garoto”! Voce gamou. 

- Eu gamei? Até que não! Mas convenhamos ela é uma Deusa não é? 

- Sim ‘Garoto”! É Bela! Tem uma provocação inocente! Mas... 

- Porque esse, mas... Last? Desembucha logo! 

Last ficou alguns minutos em silêncio olhando para fogueira que estava chegando ao fim de suas belas labaredas... Sabia que os olhos do seu pupilo estavam presos nele esperando a resposta... Mais alguns minutos depois e finalmente ele respondeu. 

- Ela é uma bruxa “Garoto”! Seres como nós não podem ter uma bruxa por perto. Feliz manhã Magno! Preciso ir. 

- Santa Kali! Isso não é justo! Embora, eu não iria mesmo toma-la para mim. E porque vais embora se chegou agora? 

- Não cheguei agora! Estou aqui desde o início! Pela primeira vez alguém cobriu minha presença de ti "CIGANO"! 

Last acabou de falar e partiu. Magno ficou pensativo... Olhando em silêncio as pessoas se prepararem para deixar a fogueira em seus últimos momentos de vida... Tudo naquela noite foi mágico e fascinante! Quando a festa estava terminando e muitas pessoas se despediam recolhendo-se para suas tendas e para seus trailers, Magno foi falar com Sandra. 

- Parabenizo-te bela Cigana! Muito bonito seu jeito de dançar. 

- Obrigada!!

Falou ela sorrindo e Magno devolveu a ela a rosa que guardava em seu cinto, prendendo de volta nos cabelos dela. A moça retrucou: 

- Óh! Foi um presente pra você. 

-Disse ela, tirando a rosa e devolvendo a Magno. 

Magno ficou um pouco encabulado com o que estava fazendo: era uma honra receber a rosa de mulher tão bela, mas, também, era um símbolo. Ele sabia que estava liberado para investir em um relacionamento se quisesse. Ele disse com muito esforço: 

-Você, você… É maravilhosa, eu, eu… 

 Aquele era o momento certo de se declarar a Sandra. Ele se aproximou e sentiu que era o momento de beijá-la. Mas disse arrumando a rosa em seus cabelos. 

- Vá bela Cigana! Sua mãe te espera! O caminho é longo até fora da floresta. 

Sandra ainda tentou falar algo, mas sua mãe a chamou: 

-Vem Sandra, vamos embora querida Já nos despedimos. 

O cigano passou ao lado das duas,  montou em seu "puro-sangue" castanho e junto com sua caravana acompanharam Pietra e seu grupo até os portões de Uhat. Sandra virou-se ainda no portão e disse: 

- Boa noite Magno! 

Magno acenou com a cabeça e os elfos lacraram a entrada novamente. O Cigano cavalgou como se flutuasse enquanto voltava para o “Acampamento do Tigre de Fogo” Suas entranhas estavam queimando com vontade de enlouquecer e se entregar a aquela mulher misteriosa. 

Naquela noite, ele não dormiu. Ficou pensando na moça. Às vezes pensava na situação do rochedo, quando seu corpo balançou para a morte, mas logo esquecia daquilo e voltava a pensar em Sandra. Sua dança mágica. Seu corpo perfeito. O beijo que ele não deu. E seu Mestre avisando: 

- Ela é uma bruxa “Garoto”!!! 

- Tudo bem! Estou apenas encantado! Eu sou o Cigano Magno! Uma alma Livre! 

Magno abriu a janela e já amanhecia e ele disse para aquele céu que despontava entre as folhas das copas das árvores. 

- Sou um ser livre. Nasci assim. Minha mãe sempre dizia que eu não gostava de usar sapatos nem de prender os cabelos, e que era um sacrifício me vestir porque as roupas me apertavam. Então:
Que eu seja livre de tudo que machuca a Alma. 

Magno saltou a janela completamente nu e correu para mata declamando um poema que sua mãe dizia: 

“Eu tenho a alma livre, ninguém me prende. Sou um beija flor que danço o balé regido por uma orquestra suave, sem nunca repousar... Polinizo, enfeito, espalho cores, alimento e fecundo as flores desta vida e volto a voar esplendorosamente solitário”... 

Assim é nosso querido Cigano: Sem amarras queridos ouvintes. Até o próximo capitulo Shubb Raatri


Ruby Chubb

Comentários

  1. Fascinante! Seu livro é de uma expressão de fantástica sensualidade com muito Bom gosto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agradeço sua gentileza e lindas palavras! Te convido a ler os próximos capítulos. Boa tarde!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Eletrocutado

Liviel Vladesk

Confiança, Amor e Amizade