O Wahoo

A coisa mais difícil é ter coragem, discernimento e não se deixe dominar pela aflição quando estamos em estado de desespero... Não tem como pensar positivamente, observar o ambiente, nem lembrar  dos bons momentos. Nosso cérebro não  capta a mensagem: (não perca a calma, tudo dará certo, creia que voce é capaz de resolver qualquer problema com dignidade). ou  (Não tenha medo, não se desespere, exercite o processo da prece, com pensamentos positivos de esperança).


Capitulo 24


No acampamento cigano “Tigre de fogo” tudo permanecia as mil maravilhas. Depois do feito fabuloso do Cigano Magno Matias. Parecia que a mãe natureza compadecida, afastava as batalhas do belo macho que adorava nadar nu na cachoeira depois de suas lidas no acampamento, fazendo a alegria das elfas da Floresta negra que o observavam em sigilo. Alguns amigos, podiam até jurar que o Cigano sabia disso e gostava de se mostrar para as belas fêmeas elfas. Elas observavam de longe e sem incomodar o belo Cigano. Entretanto Magno sentiu que alguém além das elfas o observava, então vestiu seu roupão e começou a voltar para o acampamento, Magno não estava a fim de confusão naquele dia. Na noite anterior ele não se sentiu bem junto a fogueira, não teve a companhia dos “amigos” Isso o deixava um tanto desolado. Na volta para o acampamento o Cigano ouviu vozes e estranhou, porque conheceu a voz do Enrico entre elas. Enrico estava na “Floresta negra”! Mas como Magno é muito discreto não iria investigar seu amigo, se ele quisesse falar com ele iria ao acampamento já que se encontrava na “floresta negra”

Enquanto isso

Enrico e seus três companheiros encontraram o cadáver de um alce, com a carne destruída e ainda fumegando. Enrico disse aos companheiros que eles espantaram o caçador antes que ele esfolasse a caça para assar. Juliano o amigo mais ponderado, disse que algo estava errado, e que aquilo só podia ser feito por um animal de grande porte. Porque o corpo do alce estava banhado em sangue e seu crânio estava esmagado. Juliano disse que não conhecia nenhum animal que caçasse para se alimentar somente do cérebro. Enrico ouvia a discussão em silêncio, mesmo ele tendo acompanhado os amigos na caçada depois da relutância de Galdino o mais velho e sábio dos quatro. Mas não foi por isso que se calou: Enrico preferiu ficar calado, porque ele tinha complexo de inferioridade por ser baixinho e de cabelos escuros, bastante diferente dos ciganos de seu acampamento que eram altos fortes e de cabelos claros na maioria. Às vezes os ciganos zombam dele por isso, chamando-o de anão pelas costas. O maior sonho do Ciganinho era ser um herói. Desde muito jovem ele sonhava que lutava braço a braço com grandes feras e vencia. Em um de seus sonhos Enrico se esquivava com um salto astuto do inimigo que lhe jogou uma funda nas pernas para derrubá-lo. O inimigo era grande e forte, mas Enrico não ficava atrás, durante a luta ele sentia seus braços, seu trono, seu rosto suando como pode suar um homem e mesmo assim ele não desistia. Esse sonho se repetia a muitos anos, e sempre o desenlace se repetia. Enrico colocava em seus braços e nos músculos de suas pernas toda sua força, suas pernas pareciam estacas enfincadas no chão quando ele erguia a fera homem segurando por trás ao redor do corpo e apertava, apertava, até ouvir as costelas de o inimigo estalar, até a espinha se partir... E a fera caia morta, escorregando entre seus braços como um trapo. E todos aplaudiam o cigano baixinho que fazia o que os grandões e fortes não conseguiam fazer. Enrico acordava suando, mas feliz. 

Isso era um absurdo! Enrico era um humano com o coração de ouro. Alguém em quem se podia confiar incondicionalmente! 

Silvano chamou atenção para um cheiro estranho que todos passaram a perceber depois do aviso dele. Silvano que era o mais afoito, ergueu a cabeça por entre os arbustos farejando como um cão de caça e gritou tapando o nariz: 

- Minha nossa Senhora! É ovo podre, e dos grandes.

Galdino pegou o facão e pôs o dedo sobre os lábios em sinal de alerta, poderia ser um "wahoo" dizem que eles descem as montanhas para caçar.

- Se for mesmo um "wahoo" ele poderia abater um alce apenas com um soco.

Galdino encarou Silvano de forma sombria e mandou que ele se calasse. Porque ouviu o estalado da madeira de algumas árvores próximas... Enrico foi tomado pela sensação de estar sendo observado e disse ao velho Galdino que havia alguma coisa ali bem perto... Silvano perguntou como ele sabia disso e Enrico respondeu que aprendeu com um elfo. Eles riram da cara do cigano, mas... Os ramos de um “guanandi” começaram a agitar-se e não estava ventando... Em seguida alguns pássaros levantaram voo em algazarra assustando Juliano que levantou seu arco com aquele barulhento bater de asas, depois respirou aliviado dizendo que eram apenas pombos selvagens... Mas Enrico disse que aquele é que era o perigo, Juliano perguntou o motivo e Enrico explicou que as aves levantaram voo em algazarra, porque alguma coisa que os assustou estava a espreita. Juliano abaixou o arco e sentiu seu estômago encolher... Os quatro ficaram imóveis e em silêncio. Parecia que estavam ali daquele jeito por uma eternidade, tão grande era o medo de que houvesse um "wahoo" por perto. A tensão era insuportável! Enrico que já tinha visto muitas coisas estando em companhia dos “amigos” sabia que podia ser algo surpreendente, ele sentia o suor correr por suas costas, O caminho de volta ao acampamento cigano era longo. Eles precisavam se mover e armar um acampamento com uma fogueira logo, logo. 

Galdino disse a eles que precisavam se mover, que a princípio fariam de vagar e com cautela, depois todos juntos jogariam pedras na direção do “guanandi” para assustar o que estivesse ali. Os ciganos consentiram e se prepararam: Sem fazer ruídos eles apanharam pedras e acertaram no “guanandi” ...  Nada aconteceu. Silvano respirou aliviado e disse sorrindo: 

- Seja lá o que matou o alce já deve ter ido embora, se foi um "Wahoo" já subiu a montanha.

- Mas que belo bando de caçadores apavorados nós somos. Daqui a pouco vamos fugir ao ouvir um traque dos esquilos. - Zombou Juliano.

Silvano pegou seu facão e ainda brincando começou a remexer nas moitas dizendo:

- Vem aqui agora que vou te espetar com minha lança! Esta com medo é?

De repente os ciganos engoliram um grito, quando viram Silvano ser puxado de uma vez só por uma grande mão com garras... Silvano deu um berro horrível... Logo o berro se transformou em um som rouco, grave e profundo que parecia vir direto do estomago e não da boca... Em seguida viram Silvano sair da moita cambaleando com as duas mãos em torno do pescoço, e mesmo assim o sangue esguichava por entre seus dedos... Enrico e os outros ciganos ficaram parados olhando, sem ação... 

Segundos após saiu da moita uma figura gigantesca e assustadora, tinha o corpo de humano e a cabeça de uma fera horrível, Caminhava arqueado para frente devido o peso da grande cabeça animalesca e mesmo assim, ele era bastante alto e extremamente robusto, os braços e os ombros eram cobertos por nós de músculos potentes. Suas mãos terminavam em enormes e afiadíssimas garras negras. Não tinha pés... Eram cascos e as canelas muito finas dando a impressão de que não suportaria o peso... Diante dos olhos arregalados dos ciganos a fera emitiu uma espécie de grunhido rouco e abafado, assustando os ciganos, guando viram sair da imensa mandíbula arreganhada, presas longas como punhais e os olhos famintos. 

Juliano armou seu arco e atirou no desespero de se salvar, acertando de raspão a cabeça do monstro criando uma pequena vala, Galdino apanhou seu facão olhando de olhos arregalados para Silvano que caiu de joelhos a seu lado, soltando as mãos que mantinha em torno do pescoço... A garganta dele ainda sangrava Silvano tombou de lado... Enrico que carregava uma lança curta de caça foi tomado por uma fúria cega atacou a fera tentando cravar a lança no tórax da besta... Se arrependendo logo a seguir, porque a lança resvalou na carcaça dura do monstro sem causar danos, como se tivesse jogado a lança numa rocha. A besta tomou a lança da mão de Enrico e despedaçou. Galdino atacou pelo flanco esquerdo, mas seu facão também não conseguiu ferir a besta. Juliano armou o arco na direção da cabeça do monstro e no momento de soltar a flecha, abaixou a mão acertando o tornozelo do monstro. A fera soltou seu grunhido nojento e em seguida acertou Enrico com sua pesada cabeça e abocanhou a coxa dele, ferindo a parte interna e dilacerando os músculos, e no mesmo golpe a fera jogou a cabeça pra trás atirando Enrico contra as árvores. Ainda tonto pela pancada e anestesiado pela dor Enrico apertou a ferida com a mão esquerda e com a direita e os dentes, rasgou a camisa em tiras e apertou sobre o ferimento, depois retirou o cinto e apertou em cima das bandagens para estancar o sangramento, o Cigano estava quase desmaiando de dor. O que o mantinha atento eram os gritos estridentes que vinham da parte onde estavam antes dele ser atirado longe. Enrico pegou um galho passou por dentro do cinto e torceu para apertar mais. De repente os gritos cessaram... Enrico se levantou com muito custo e olhou por entre os galhos... E caiu sentado novamente... Seus amigos estavam deitados no chão e a fera estava curvada sobre eles dilacerando seus corpos com as presas... Ao lado do monstro o afiado facão de Galdino, Enrico procurava um jeito de chegar até o facão e atacar a fera, seria perigoso... Mas não seria honrado deixar seus amigos assim sendo devorados. 

Enquanto o monstro fazia seu horrível banquete, Enrico arrastou-se bem devagar para tentar pegar o facão que estava a um metro do monstro... Cada galho que quebrava o coração do Cigano quase parava, mas o monstro estava distraído com seu banquete. Quando Enrico arriscou levantar-se uma dor lancinante em sua perna o fez ir ao chão novamente... E dessa vez com um baque abafado que fez o monstro prestar a atenção olhando na direção do som... Enrico pensou enquanto fechava os olhos para esperar que o monstro se aproximasse dele, não conseguiria mesmo correr... 

- Porque eu não acreditei no Galdino quando disse que seria perigoso virmos para esse lado caçar? Também, se o velho cigano tivesse nos falado sobre os trolls, que vinham do fundo das montanhas, ou dos duendes perversos, que tingem os nossos lenços ciganos com o vermelho do sangue de suas vítimas, ou então dos Elfos que caçam com seus lobos brancos, nós teríamos acreditado. Mas sobre uma criatura que anda ereto e se alimentava de homens... Como poderíamos crer uma coisa assim? 

O Cigano abriu os olhos e a fera não estava sobre ele. Então começou novamente a levantar para sair dali antes que fosse devorado, nas condições em que estava não conseguiria duelar com aquele monstro, dessa vez não era um sonho, era a vil realidade. Enrico levantou cauteloso, respirando forte pelo sacrifício de andar sobre apenas uma perna, seguiu mancando sentindo sua perna ferida entorpecida dificultando seu apoio, meio de pé e meio agachado o Cigano seguia tropeçando. Ele não ouvia mais os sons nojentos que a fera fazia quando se alimentava de seus amigos. Teria acabado seu banquete? Enrico recostou-se numa rocha para descansar, ele olhava cauteloso o limite da floresta que ele havia percorrido. A escuridão já se fazia presente, mas ali naquela parte da floresta, ele via tudo nítido como se fosse uma noite clara de lua cheia. O céu parecia um enorme pano de órbitas, tecido com o brilho resplandecente das estrelas, que fora estendido no céu. 

Enrico sorriu lembrando que quando era criança, os ciganos diziam que os elfos se ocultavam na luz da lua para cavalgar a noite e caçar sobre o céu límpido. Ele adorava sentar diante da fogueira apara ouvir histórias de trolls das montanhas distantes ou de elfos de coração tão frio quanto as estrelas de inverno. Ele cresceu e conheceu os elfos. É amigo dos elfos, dos vampiros, dos seres sobrenaturais da floresta, mas naquela hora estava sozinho a sua sorte. Enrico ouviu um som nas folhagens que o despertou de seus devaneios com olhos arregalados... Será que a fera o teria seguido? Será que ainda estaria com fome? Enrico estava quase sem forças, mas ele não iria deixar a fera rasgar seu peito para comer suas vísceras e su coração... O Cigano desencostou e tropeço... Não sentia mais a perna... Ele não deveria ter parado para descansar! Enrico olhou para a sua perna sem nenhuma sensibilidade... E começou a rir... Estava perdendo a razão! Chutou a rocha e não sentiu nada, mesmo assim tentou caminhar. Era questão de sobrevivência... O Cigano olhou para trás... O monstro caminhava sem pressa, lentamente... Tentou apressar o passo para chegar o mais longe possível em direção ao acampamento talvez encontrasse alguém, para ajudá-lo. Enrico ouviu um barulho e olhou para trás... A fera rosnou... Parecia olhar diretamente nos olhos dele... O Cigano sacudiu a cabeça se achando louco, não era possível que o monstro o olhasse diretamente naquela distância, sentiu um frio no coração. Pegou um galho para ajudar na caminhada e acelerou os passos para tentar manter a vantagem, a respiração do Cigano assobiava quando ele expirava. Enrico olhou para trás mais uma vez... O Monstro caminhava sem esforço como se tivesse brincando com ele. Enrico escorregou e caiu batendo a cabeça numa rocha, passou a mão na cabeça e viu sua mão manchada do sangue escuro que escorria... Como ele foi tolo! Andar e olhar para trás ao mesmo tempo estando sem os sentidos da perna direita. Agora precisava se arrastar. Que humilhação! Ele Enrico o Cigano que ajudou aos elfos e aos vampiros, estava curvado e rastejando diante do seu oponente daquela forma. 

Não seria possível se impor com armas diante desse monstro, porque ele viu ricochetearem as armas contra o peito dele... Enrico rastejava sobre os cotovelos. Mas ao força-los contra pedras e gravetos, a força de seus braços também esvanecia, apertando os olhos Enrico continuou a rastejar sobre os cascalhos, um pouco à frente tinha um despenhadeiro de onde dava para ver a fumaça da fogueira cigana ser dispersada pelo vento. Estava quase chegando ao despenhadeiro, tentou ficar de pé, mas suas pernas não obedeceram. Enrico ouviu um som estranho... Muito fraco o Cigano olhou para trás e deu de cara com a fera que batia os cascos, a alguns passos dele. Rápido Enrico se aproximou da borda do penhasco... Ele estava ciente que sua vida tinha acabado, mas se ele podia escolher entre se jogar do penhasco ou ser comido por um homem fera ele preferia o voo para morte. O Cigano orou aos Deuses ciganos pedindo perdão por não ter morrido com seus amigos. Antes que terminasse a oração um bafo quente soprou sua face... Ele abriu os olhos e se viu quase dentro de dois olhos encarnados, a fera estava agachada ao lado dele... A baba pingava do focinho dela sobre a cara de Enrico e as presas afiadas ainda ansiava por fibrosos pedaços de carne... O Cigano fechou os olhos e esperou seu peito ser dilacerado pelas longas presas da fera... Um urro fenomenal eclodiu da boca escancarada da fera precedendo o ataque que a levaria direto a garganta do Cigano... Mas... 

Algo se chocou com seu corpo interceptando a sua refeição... Algo tão forte, selvagem e determinado quanto ele. As duas besta enrodilharam-se numa batalha de igual para igual, que fez tremer o solo daquele penhasco. O barulho da luta e os rosnados fizeram Enrico abrir os olhos e se por em alerta, ele estava quase desmaiando de dor e pavor. Enquanto isso uma das feras ferida desabou sob as presas e garras do seu algoz. Mas para espanto do derrotado, o adversário afastou-se dele com um rosnado feroz e sem aplicar o golpe final. A criatura vencida arrastando-se de forma penosa desapareceu no meio da mata. A criatura vencedora voltou para junto de Enrico que continuava deitado no mesmo lugar com o coração batendo descompassado e quase sem ar de tanto pavor. Ao seu lado tinha um grande tigre branco com corpo de um humano e as presas pingando sangue. Enrico continuou imóvel pensando. 

- Da onde surgiu essas criaturas fantásticas será que são apenas sonhos? 

 Boa noite queridos leitores! Até o próximo capitulo. Shubb Raatri


Ruby Chubb

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